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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

olimpíada de Língua Portuguesa 2019. Gênero memórias.

Esse texto foi selecionado na etapa escolar e municipal (Marechal Floriano)no ano de 2019 trabalhado pela professora Ana Paula Breda

EEEFM VICTÓRIO BRAVIM


ALUNO: SANDRA APARECIDA MÓDOLO
7º ANO V02
MEMÓRIAS LITERÁRIAS


Remendos de histórias, costurados pela saudade
Relembrar o passado me faz encontrar muitas fechaduras recuperadas pelo levantar do pó... Faz-me abrir cofres e gavetas trancadas pelo tempo... Relembrar o passado é reencontrar lembranças, costuradas pela saudade, remendadas na memória Plic... Plic... Plic... O tilintar das agulhas em minhas mãos remetem-me a reascender momentos únicos, que os anos apagaram e deixaram para trás. Um momentinho...
Na década de 1950, sempre no clarear do dia, o majestoso canto do galo resgatava sons e cores roubadas pelo silêncio das noites e dava vida ao meu aconchegante lugar, pintado de verde e amassado pelo sopro dos ventos. Canto que adentrava meus ouvidos e me convidava a levantar.
Ir à escola era cansativo, mas preciso. Saía cedo junto a meus cinco irmãos, admirando as árvores que coloriam o caminho. Os primeiros raios solares, que substituía a lua, que já sem linha deixara de bordar estrelas e arremessava-as ao longe, nos aquecia. Sobre a escola, hoje encontro lembranças que aliviam a sensação da régua de madeira tocando minhas pequenas mãos que mal traçavam as letras. Lembranças remendadas pelas rugas que hoje as cobrem. Plic... Plic... Plic... Chegávamos em casa após os estudos cobertos pela poeira da estrada, mas éramos surpreendidos pela recompensa da mesa farta que devolvia a alegria estampada em nosso sorriso sujo de coloral.
À tarde, íamos nos refrescar nas águas do Rio Sertão, que como espelho refletia meus singelos traços de menina. Sua correnteza atraía nossa curiosidade nos levando a travessuras... Em meio a árvores próximas, era possível avistar um casebre onde adentrávamos intoxicando o lugar de alegria, pintando de luz a escuridão com o pincel do suspense... BANANAS!! - Era o grito quando avistávamos os alimentos de cor amarela, decorados com pontinhos pretos. Degustando essas frutas, ouvíamos roucos passos que se aproximavam... TRUCTREC... Pelas frestas a luz do sol refletia o olhar arrogante do Sr. Silva que nos convidava a dali nos retirarmos. Rapidamente corríamos por entre as árvores aterrorizando os pássaros com nossa algazarra.
Quando o pôr do sol desamarrava os laços que seguravam as cores e sons do dia e a lua começava a bordar estrelas, íamos para casa. O sono chegava de mansinho, sereno... Mas nem dava muito tempo de sonhar. TLUNC! TLUNC! - Ah! A cesta de costura resolvera cair novamente.
Solitária, contemplava à luz de lamparina as tão sofridas mãos de minha mãe trançando linhas e pregando retalhos. Essa luz revelava a face e o trabalho da sofrida mulher, que passava as noites em claro, bordando e descosturando as dívidas do tecido “vida”, para ajudar no sustento da casa. Perdi a conta de quantas vezes desvirei seu chinelo - crendice da época - para salvar sua vida, pois os dedos de papai que chocavam contra seu belo rosto deformavam-no. Plic... Plic... Plic...
A rotina continuava a mesma até o dia em que o sol não aparecera para resgatar nossos sorrisos, pois as nuvens começaram a chorar intensamente... Lembranças trágicas como raios riscados no céu.
Gravuras de desespero costuradas sobre os idos de 1956 revelaram as águas do Rio Sertão, que tanto nos encantava, como um inimigo. Ao vermos as plantações, serpeando junto às águas, não mais cristalinas, apagarem com seu curso nossos sonhos, ficamos sem nenhuma esperança.
Quando a água baixou, o pedaço de chão, no interior de Marechal Floriano, ES, era completamente diferente daquele que nossos olhos costumavam admirar. Aquele era um novo lugar, onde com muito esforço reconstruiria meu futuro e minha história. Plic... Plic... Plic... Cenário que ainda guardo na lembrança.
Hoje, meus olhos se entristecem ao observar o Rio Sertão, costurado por histórias e remendado pela poluição. Pequeno curso de água que um dia mudou minha história, mas que ainda segue construindo o futuro de Marechal Floriano, furando serras e precipitando lágrimas... Lágrimas que preenchem os momentos de lembranças resgatadas pelo tempo... Lágrimas presas aos laços da vitória... Lágrimas que remendam histórias na memória e costuram saudades com linhas douradas. Plic... Plic... Plic...
Texto baseado na entrevista com Alzita Roveda Zambom, 80 anos.


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